sexta-feira, 27 de abril de 2018

O Centenário da Estrada de Ferro Santa Catarina



A imagem de 1930 – Mostra a antiga estação ferroviária de Blumenau – demolida a partir de Setembro de 1974

 Esta estação funcionou até 1954 – se localizava onde hoje é a atual prefeitura de Blumenau. Em 13 de março de 1971, os trilhos foram arrancados logo depois, sob protestos da comunidade. O trajeto existente e único restaurado da locomotiva fabricada em 1920 compreende apenas 600 metros, vagão de madeira em seu interior, ainda é possível regressar no tempo. O passeio de trem, no Bairro Bela Aliança, em Rio do Sul, relembra os tempos dourados da Estrada de Ferro Santa Catarina (EFSC),
Idealizadores e construtores da Estrada de Ferro de Santa Catarina, no início do século 20. Sentados da esquerda para direita: Dr. Castilho, o engenheiro Musika, o alemão Werner, inspetor e auxiliar técnico Roepcke.
De pé, os técnicos Ludwig Muzika, Pfau, Gelbert, os engenheiro Hanz Meyer e Schwingt, Mike, Goldner, Schroeder, Otto Rohkohl, Wehlert e Otto Baumeier.
(Imagem: livro A Ferrovia no Vale do Itajaí, de Angelina Wittmann)

Macuca que hoje está na praça ao lado da prefeitura de Blumenau.
Desde 31 de agosto de 1991
Primeira locomotiva de Blumenau. Importada da Alemanha em 1.908, chegou ao Brasil a bordo do Vapor Klobenz que também trazia oitocentas toneladas de material para a Estrada de Ferro Santa Catarina. Sinônimo de progresso e modernidade quando chegou ao município, em 1908 , a Macuca simboliza a memória de uma época. Além disso, reforça a necessidade de preservação da única locomotiva que sobrou da frota da Estrada de Ferro Santa Catarina (EFSC). Produzida em Berlim, na Alemanha, carregava inicialmente a missão de levar material de construção para as obras ferroviárias entre Blumenau e Indaial. Ela veio para o Vale do Itajaí como uma locomotiva para trens de serviço, mas também puxou trens com autoridades ferroviárias e governamentais e até militares em inspeção ao longo da via férrea.Curiosidade: O apelido “Macuca” foi dado carinhosamente pela comunidade devido a semelhança com o macuco (Tinamus Solitárius – Ave da família Tinamidae). Além da anatomia, o seu apito lembrava o piu do macuco e o ruído da descarga de sua caldeira recordava o som produzido pelas asas da referida ave. A locomotiva inaugurou o trecho Blumenau – Warnow ( cidade de Indaial).
História:

Ponte Aldo Pereira de Andrade - Centro de Blumenau e a passagem do trem.

"O primeiro trecho inaugurado em 1909 ligava Blumenau ao Warnow, em Indaial. A possibilidade de percorrer o trajeto a 30 km/h, era fundamental,e mostrava uma nova era pois o transporte mais popular era a carroça na época . Dos 184 quilômetros que a ferrovia já abrangeu, o trem hoje funciona apenas no trecho de Rio do Sul – Ficaram apenas lembranças vivas dos ruídos, a fumaça e o ranger dos trilhos".

A ESTAÇÃO:
A estação de Blumenau, a original, foi inaugurada com a linha, em 03 de maio de 1909, em estilo (Técnica) enxaimel. Em 1.904, o Governo Estadual concedeu autorização a Companhia Colonizadora Hanseática para a construção e exploração de uma via férrea ao longo do Vale. O primeiro trecho, com 30 quilômetros de extensão, entre Blumenau e Warnow, hoje Indaial, foi inaugurado em 3 de maio de 1.909. Em junho do mesmo ano, o leito chegou em Ascurra; e, em outubro em Hansa, atual Ibirama. A Estrada de Ferro Santa Catarina foi a primeira obra da época, realmente planejada na região do Vale do Itajaí. Seu leito foi construído em uma altitude especial, visando a proteção contra as cheias já registradas pelos primeiros colonizadores. Foi desativada em 1954, com a extensão da linha até Itajaí, quando se construiu uma nova estação. Chegou a funcionar por algum tempo juntamente com a nova estação, como pátio de manobras e estação de cargas.

Oficina em 1948
Em 1954, quando o trecho finalmente foi inaugurado, a linha velha permaneceu por uns anos. Normalmente as locomotivas usavam a linha velha para fazer a limpeza da caldeira (jato de vapor) numa ponte que existia perto da velha estação. Mas, isto durou uns anos e depois a linha foi erradicada. A estação velha a partir de 1954, passou a abrigar apenas o escritório da ferrovia, a diretoria, por exemplo, por ser área central da cidade, e assim ficou até a desativação em 13 de março 1971.

Foi este local um dos primeiros a ser "encampado" pela Prefeitura de Blumenau, que ali construiu o fórum da cidade onde era o antigo colégio Luiz Delfino (foto fundos),e onde era a estação a atual prefeitura nova de Blumenau em 1982- e lamentavelmente demolindo a estação, isto já pelos fins de 1968. Além do prédio do fórum, que já não é mais fórum, o local abriga hoje o grande prédio da Prefeitura de Blumenau" (Luiz Carlos Henkels, 2008). Ao lado direito da foto, antigo Hotel Esperança, onde depois foi construída a Casa Willy Sievert, hoje Loja Millium.

Obs: (A Macuca prestou serviço de 1909 até 1935, seria  a Locomotiva No. 3, segundo relatórios preservados de Breves Filho, que era o diretor da EFSC. As de No. 1 e 2 foram construídas, respectivamente, em setembro e novembro de 1907, enquanto a Macuca é de 1909. Tanto a No. 1 quanto a No. 2 foram sucateadas em 1932).
Adendo de Luiz Carlos Henkels sobre a última viagem e seus maquinistas
Enviado por Angelina Wittmann 
Vamos por  partes que o assunto é mais  complexo:   Dois maquinistas operaram o  trem da  última  viagem. Anibal Rocha na  tarde de 12  de março entre Itajaí até  Itoupava Seca. Ali trocou a escala. De  Itoupava Seca até  Trombudo Central, na  tarde de 12 de março quem levou o  trem foi José Pacheco, ao  qual  ainda pude   entrevistar  em 1994.

        Agora  vamos à composição.  O trem na última viagem não tinha mais  cargas por  questões  óbvias. Era  um trem mais  pra fazer o rescaldo, recolher os  vagões  que  ainda estavam pelas  estações. A  desativação da EFSC  foi uma questão  bem planejada  Então de Itajaí a Trombudo Central,  subindo, o  trem  tinha apenas 4 vagões tracionados pela locomotiva 331.  Era  composto da seguinte forma. Atrás da locomotiva um pequeno vagão pra  transportar mercadorias  avulsas de maior  volume  numerado como FB 9301. Após  este vinha o bagageiro, que é aquele vagão que levava  o correio, bicicleta, cachorro,  lambreta, verdura, geladeira, armário, etc....e  que era  também a administração do  trem, ou seja abrigava  o reservado do chefe de  trem. Este carro era o BC 101. Atrás  deste vinha o carro  passageiro de  2ª classe que neste dia era o S 101 e  por fim o último carro  que era um misto ( tinha assentos de  1ª classe e 2ª classe ) e  que  não me  lembro qual era porque tinha dois  iguais, mas,  ou era o PS102 ou o PS103, mas, creio ter sido o PS 103.

        Ao chegar a Trombudo o  trem voltou imediatamente  para Itoupava Seca, conduzido pelo mesmo  José Pacheco, recolhendo ainda alguns  vagões ao longo das  estações. Este trem passou aqui por Encano por volta de  2:00hs da  manhã. Levantei para  vê-lo passar. Devia  ter uns  10 vagões.

        No dia   13 de março  que  era  sábado, estes vagões remanescentes  foram levados até  Itajaí, onde  permaneceriam até o momento de  serem transladados  via marítima até o porto de São Francisco, onde foram incorporados à  frota da RVPSC. Neste dia 13 somente a  locomotiva  331 voltou para Itoupava Seca, sendo guardada  no  galpão  principal. As  locomotivas a  vapor eram muito pesadas e  o pessoal não queria  ter o  trabalho de transladar  todas as  12  que tinha para São Francisco, por ser desnecessário. Jurássicas como eram, não teriam serventia na RVPSC  que  já operava a  diesel. Assim ficaram em Itoupava até  1973  para  daí  serem sucateadas.

        Nestas operações do  dia  13 não se sabe o nome do maquinista. Os  ferroviários davam pouca  importância pra isso, afinal era  só mais  um  trem  na  escala deles, apesar de  ser  a última escala. Interessante  também colocar  que  o  próprio José Pacheco  se  irritou  várias vezes  na  última viagem para  Trombudo, pois alguns  filhos de  ferroviários, para curtir a  última viagem, foram na cabine da  locomotiva  e  sucessivamente trilavam o  apito pra   chamar a  atenção, até que irritado,  o Pacheco pediu pra  eles pararem  com essa  “M...” porque  "  estava   enchendo  o saco". Curto e  grosso, o Pacheco não era afeito a  esses  fru - fru - fru - e  me  disse  que odiava cada  vez  que alguém acenava ou abanava com lenços a passagem do último  trem.

        Mas  quem apitou pela  última vez  em Blumenau foi o Aníbal  Rocha, já aposentado,  em 1973, quando foi convocado para puxar as locomotivas para fora  do pátio da Itoupava Seca   para o procedimento do  sucateamento, quando foi acesa novamente a  331 . Neste dia  várias fotos  foram feitas e o próprio Anibal Rocha mais   afeito  à fotos fez .
Este último  trem, que como  já postei no  grupo daEFSC não tinha nada de  muito romântico. Nem em Blumenau não tinha muita gente  na estação não.  A  maioria  aplaudiu mesmo é   a  parada do   trem   que “enfeava "  a  glamorosa   Blumenau  de  então  e o  trem era  tido  como o  transporte da  pobreza de então e  como alguém escreveu num jornal de   Brusque,  que  o  trem servia  mesmo só pros  pobres  que afinal  tinham tempo pra  andar de  trem ou seja, eram pobres porque  não gostavam de  trabalhar.


 Na  década de 1990 a Macuca foi reformada e colocada na Praça ao lado da prefeitura de Blumenau desde 31 de agosto de 1991.
(Fonte: A Estrada de Ferro no Vale do Itajaí, de Angelina C. R. Wittman, 2001; Luiz Carlos Henkels, 2008). Wieland Lickfeld
Arquivo : Dalva e Adalberto Day /José Geraldo Reis Pfau

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Família e o Impacto da Imigração (Curitiba, 1854-1991)

A Família e o Impacto da Imigração (Curitiba, 1854-1991) Cacilda da Silva Machado 1 Universidade Federal do Pa...